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35 CENTÍMETROS DE PROFUNDIDADE: Nível do Rio Paraguai atinge novo recorde de seca em Mato Grosso, ficando mais de um metro abaixo da média


Por Amábile Monteiro, Carla Salentim, g1 MT

35 CENTÍMETROS DE PROFUNDIDADE: Nível do Rio Paraguai atinge novo recorde de seca em Mato Grosso, ficando mais de um metro abaixo da média

O Rio Paraguai, no trecho de Cáceres, a 250 km de Cuiabá, atingiu no último sábado (21) o nível mais baixo dos últimos dois anos, com apenas 35 centímetros de profundidade. O número é alarmante, já que o esperado para o período é de 1,54 metro. A diferença de 1,19 metro abaixo da média histórica reflete a gravidade da seca que afeta a região.

De acordo com o Centro de Hidrografia e Navegação do Oeste, da Marinha do Brasil, a última vez que o rio chegou a um nível tão baixo foi em 2021, quando a profundidade chegou a 26 centímetros. Na época, a profundidade esperada era de 1,30 metro. Hoje, o cenário é ainda mais preocupante, com o leito do rio revelando bancos de areia e pedras, impactando a navegação e a vida ribeirinha.

Imagens capturadas na região mostram casas construídas sobre palafitas, antes projetadas para se protegerem das enchentes. Contudo, a seca severa deixa visível um caminho de areia que se estende da casa até a floresta, algo inimaginável em tempos de cheia.

Impactos na Navegação e Riscos

A baixa profundidade do rio não apenas preocupa a população local, como também representa um risco iminente para os navegantes. Embarcações de grande porte enfrentam dificuldades para navegar, ameaçadas pelos bancos de areia que surgem ao longo do curso do rio. Segundo agentes fluviais, o risco de encalhe é alto, especialmente para as atividades comerciais que dependem do transporte fluvial.

Situação em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

A situação não é diferente em outras regiões. Em Barra do Bugres, o Rio Paraguai também registrou um nível crítico no início de setembro, atingindo 26 centímetros de profundidade, um novo recorde de seca. No estado vizinho, Mato Grosso do Sul, a seca no Pantanal também alcançou níveis críticos, com a régua de Ladário registrando 25 centímetros abaixo do nível zero. Em Porto Esperança e Forte Coimbra, os registros foram ainda mais severos, com -93 cm e -150 cm, respectivamente.

Secas prolongadas e o impacto ambiental

Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), boa parte dos municípios de Mato Grosso está sem chuvas há mais de 140 dias. Essa estiagem prolongada tem afetado diversos setores econômicos, como a agricultura, a pesca e o turismo, gerando uma crise hídrica sem precedentes.

Mato Grosso, além de enfrentar a seca, é o estado que mais registrou focos de queimadas em 2024, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Só no mês de agosto, foram contabilizados mais de 13,6 mil focos de incêndio, com 1,6 milhão de hectares devastados pelo fogo.

Desafios à frente

O Rio Paraguai, um dos principais rios do Pantanal e responsável por regular o ecossistema da região, enfrenta um de seus momentos mais críticos em décadas. Com 21 estações de monitoramento ao longo dos 1.693 km em território brasileiro, 18 delas indicam níveis de água abaixo do esperado para o período, sendo que três dessas estações já registram marcas abaixo de zero.

A falta de chuvas e o avanço das queimadas intensificam a situação de seca no estado, desafiando autoridades e moradores a encontrar soluções emergenciais para a preservação do meio ambiente e a manutenção da vida econômica nas áreas afetadas. O Pantanal, uma das maiores áreas úmidas do mundo, está agora mais vulnerável do que nunca.