logo

Jauru é a cidade que mais "exporta" mato-grossenses para os Estados Unidos


Por RD News

Jauru é a cidade que mais

Jauru é uma pequena e jovem cidade do interior de Mato Grosso (a 409 km da Cuiabá). Tem 8 mil habitantes e 39 anos de fundação. Poderia ser destacada por sua produção agropecuária ou pelas diversas usinas hidrelétricas, dispostas no rio de mesmo nome. Porém, há 20 anos, um costume vem fazendo da cidade a campeã em exportação de mato-grossenses aos Estados Unidos, principalmente Nova Iorque e Boston, cidades históricas e muito populosas.

É isso mesmo. Em Jauru, é difícil encontrar alguém que não tenha passado por isso ou que não tenha alguém na família ou ao menos um conhecido marcado pelo trajeto MT-EUA.

Com ou sem o apoio dos chamados coiotes, que são os atravessadores clandestinos, percorrem 6 mil 986 quilômetros e tentam a entrada ilegal no país agora sob Donald Trump. A empreitada está cada dia mais complicada e arriscada.

Quando estão lá, enviam dólares para familiares e esse dinheiro movimenta a economia jauruense. O  foi a Jauru e conversou com diversos mato-grossenses que passaram por esta experiência. Nem todos aceitam dar o nome. Um deles conta que fez a travessia há 16 anos.

Um amigo, que havia retornado do Brasil, tinha decidido voltar aos Estados Unidos. Ele o convidou para ir junto, garantindo que, sem os atravessadores, não iam gastar mais do que 3 mil dólares.

"Foi assim que decidi fazer a viagem. Gastei de Jauru até chegar em Boston 2,5 mil. O caminho era o mais fácil possível que já tinha ouvido falar. Era só cruzar a fronteira do México com os Estados Unidos e pronto. Mas foi muito tenso. No momento que entramos em um carro, um Opala Comodoro com mais nove pessoas emboladas, me deu medo", relata o jauruense anônimo.

De Opala, o grupo passou por várias barreiras e no fim caminhou por mais de 26 horas, subindo montanhas na região do estado do Arizona, com mais de 2 mil metros de altitude. “Chegou um momento que pensei que ia morrer de tanto cansaço".

Segue relatando o estresse na travessia. "Por volta das 5h da manhã de 26 de outubro de 2003 estávamos todos cansados e a polícia da fronteira dos Estados Unidos fez a abordagem, fechando cerco em volta de nós com vários carros e policias. Fomos levados para reconhecimentos. Éramos, neste momento, uns 30, sendo sete brasileiros e os demais da América Central. Foram feitas as nossas identificações, sendo que os brasileiros ficaram presos e os outros foram deportados. Neste momento, fiquei sozinho, porque o meu amigo também foi deportado".

No México

Chegando ao México ele e o amigo conversaram com o recepcionista do hotel em que ficamos hospedados. Contaram o que iriam fazer, que precisavam de um coiote e prometeram 100 dólares pela travessia. “O cara falou: vai chegar alguém na sua porta, batendo, isso será um sinal. É ele que vai levar vocês até a fronteira”, explicou.

Na hora de fazer a travessia, ninguém conversava. O coiote perguntou apenas qual era o destino. "Quando entramos no carro, pagamos e começou a viagem", relembra.

A novela desse rapaz é apenas uma das várias histórias de moradores de Jauru, que embarcam na jornada de chegar a um país tão distante.

Status

Questionado sobre por que enfrentar tudo isso, alega que  aproveitou o embalo de amigos em Jauru, que estavam indo aos Estados Unidos em busca de trabalho para melhorar de vida.

“Ver as fotos dos amigos, com caminhonetes, na neve, aqueles bares que você só vê em filmes. A cada foto que um morador de Jauru, que estava lá, enviava e os amigos viam dava mais vontade de experimentar essa aventura. Eram mais de 10 que iam para os EUA. E nós pensávamos: estou aqui, ralando, e o cara lá, andando de caminhonete. Isso era o sonho do momento. Além da chance de ganhar um dinheiro”, explica.

Na década de 90, a migração era um status na cidade e despertava o interesse, principalmente de jovens.

Moradores contam que a economia da cidade girava entorno do dinheiro americano. “Muitas casas boas foram construída aqui com o dólar”, afirma o prefeito Pedro Ferreira (PSD), ao confessar que também foi para os Estados Unidos na juventude de maneira arriscada.