Por Globo Esporte - Helena Rebello e Marina
Egípcio é adorado por fãs, que dizem querer virar muçulmanos e ir à mesquita em cântico de estádio
Para o torcedor do Liverpool, Mohamed Salah é sinônimo de gol. São 43 em 47 jogos nesta temporada. Para os mais de 28 mil egípcios e 4 milhões de muçulmanos que vivem no Reino Unido, o sucesso do atacante transcende o esporte. Tendo o futebol como ferramenta, o camisa 11 é capaz de diminuir a intolerância religiosa e a hostilidade cultural, ambas potencializadas nos últimos anos após ataques terroristas cometidos por extremistas islâmicos.
Salah comemora todos os gols ajoelhando, apontando para o céu e agradecendo. E a torcida incorporou a devoção do atacante em uma das músicas cantadas durante as partidas no estádio de Anfield.
“Se ele é bom o bastante para você, ele é bom o bastante para mim. Se ele marcar mais alguns, serei muçulmano também. Ele está sentado na mesquita, é lá que eu quero estar”
Para o Ímã Abu Usamah, líder religioso da maior e mais antiga mesquita de Liverpool, o alcance do jogador tem valor incrível para a comunidade. Fora o público que o assiste em campo, há ainda os seguidores das redes sociais. São cerca de 5,2 milhões no Twitter e 11,7 milhões no Instagram.
- Salah e o que ele conquistou em um período tão curto de tempo é fenomenal. Muitas pessoas nesse país amam futebol, e o futebol é capaz de transpor barreiras que separam as pessoas. Ele tem sido um embaixador da nossa comunidade. Eu, que sou o Imã, que tenho o trabalho de convidar as pessoas para o islã, não teria conseguido conquistar o que Salah conquistou ao chutar a bola a gol.
A popularidade de Salah é especialmente grande junto às crianças. As duas mostradas nos Tweets abaixo viralizaram em postagens de seus pais. O pequeno Oscar fez um dever de casa em que precisava rimar palavras terminadas em ING no inglês. Lembrou-se logo da música cantada pelos torcedores que exalta a velocidade do atacante pela ala e o chama de Rei do Egito.
Luca, de seis anos, quis vestir-se igual ao Ídolo em uma celebração do Dia do Livro em sua escola. Colocou uma peruca com cabelo cacheado e até pintou uma barba. O pai, Scott Alcock, o incentiva.
- Eu sempre fui fã do Liverpool, e Luca passou a mostrar mais interesse em futebol e no time quando Salah assinou. Ele inspirou meu filho a querer jogar mais futebol. Luca o adora, e foi ideia dele ir vestido de Salah para a escola. Acho que as crianças amam a forma como ele surgiu e se tornou um sucesso instantâneo, sempre se mostrando amigável e feliz. Ele parece ter uma grande personalidade – disse Scott ao GloboEsporte.com.
Entre as crianças africanas a sensação é a mesma. Salah é o herói que deixou para trás a pobreza. É o menino que enfrentava quatro horas diárias na estrada para sair do vilarejo de Nagrig rumo à capital Cairo para treinar no Al-Mokawloon e hoje disputa os mais prestigiados campeonatos mundo afora. É o craque que levou o país de volta a uma Copa após 28 anos de ausência e que usa sua influência e riqueza para patrocinar causas humanitárias.
Esta semana, uma turma de engenharia homenageou o ídolo na formatura na Universidade de Port Said. Nas últimas eleições presidenciais, ele foi lembrado nas urnas mesmo sem ser candidato. Um presente brilhante previsto por um dos responsáveis por garimpar seu talento.
- Salah fazia um grande esforço para conseguir chegar aos treinos do Sub-15. Precisava viajar 120 quilômetros e pegar três conduções para chegar à capital. Hoje em dia ele é o embaixador do Egito. O mundo inteiro fala dele. Uma vez eu disse àquele garoto que ele poderia se tornar famoso – disse o primeiro técnico, Hamdi Nooh.
Salah não é apenas famoso. É venerado pelos fãs do Liverpool. Foi peça fundamental na classificação do time às semifinais da Liga dos Campeões após 10 anos. Marcou dois gols e deu duas assistências na vitória por 5 a 2 sobre a Roma na última terça-feira. E tem tudo para ser, mais uma vez, o protagonista do jogo de volta, na Itália.
- Ele está fazendo uma temporada brilhante, jogando em altíssimo nível. Se continuar assim por um período de tempo maior, pode se tornar o melhor do mundo – acredita o atual treinador, o alemão Jürgen Klopp.